No fundo do bolso
as três moedas
que lhe restam.
Ainda vem longe
o final do mês!
No bolso interior do casaco
gasto, borbotado tem o passe,
guardado junto ao corpo
magro e esguio.
Tem forma de regressar
se não o perder.
Tem forma de o perder
Se não o guardar.
Olha as montras
enquanto passeia as horas.
Anjos de caco, anafados,
sorridentes,
da cor do oiro e da alvura da neve
anunciam-lhe o quase nada,
no silêncio da tarde breve.
Longe, espera uma mesa vazia
rodeada de bocas,
encimada por dois olhos brandos,
esquivos,
como os abraços
que se escondem no vazio da amargura
que tortura.
Aperta as moedas
Que hão-de chegar para
pães
secos. Dois ao jantar e dois ao levantar
divididos por quatro
muito devagar…
Para si não, diz que não lhe apetece.
De repente, uma rena,
vinda do nada
aparece
imóvel, hirta, embalsamada
junto a uma cama que se vende,
exposta na montra decorada
em tons dourados e rubros
E mais além, pinheiros de fantasia
brancos, com bolas azuis
de um azul fundo que brilha
quando encontra o azul claro dos seus olhos.
Chora!
Deixa cair, embrulhada de vergonha,
a lágrima que escondia
como as duas moedas
no calor das suas mãos.
Estremece!
É quase Natal!
E não parece…