Pertence a um lugar orlado de cinzas
Outrora pintado de cores vivas e fortes.
Como um véu, o céu vibra no azul
Infinito, azul de mar… que fica longe!
Azul ao poente, azul antes das estrelas
Azul do amanhecer, dormente!
Da terra brota a água turva
Que incessante serpenteia e lava
O colo dorido da serra e dos caminhos.
Gotículas de sangue desprendem-se dos olhos,
Ainda em chamas, ainda em grito,
Ainda em súplica, tão ou mais ardente!...
Que fazer? Onde ancorar a mágoa
Que se eleva ao azul, impávido, do céu,
Como um, daqueles troncos,
Negros, calcinados, sedentos de justiça?
Onde repousam a cabeça
Os homens, poucos, que aqui pertencem
Que aqui jazem
Enraizados, entrelaçados, presos
A um pesadelo sem fim,
A um abraço vazio sem reverbero?
Quem roubou a esperança
Aos homens moldados na terra
Com reflexos de céu?
Fátima Almeida
2017, Junho, 18