Antes que o
sol rebente
Por detrás do
cabeço do monte
Já moureja
acordando as fragas
Que no caminho
encontre.
Corre,
tropeça, quase cai,
Mas, da
garganta seca e esvaída
Nem um sopro,
nem um ai.
Num braço, um
filho, acabado de parir
No ventre, já
dois escolhem caminho.
Leva acesa, no
rosto, a chama infinda
E traçada
sobre o peito intumescido,
sobre o
coração,
O alforje de
serapilheira, onde aninha
Uma côdea, a
fartura
Duns restos da
noite,
Para esganar o
cansaço que atura.
Feixe de obra,
luzeiro na sombra
dói-lhe o
barulho e a malina.
O óleo
esgotado é espesso e negro
Como a sua
sina,
Como o vaso de
desperdícios
Que cobrem o
fundo
Onde o filho
dorme
Enquanto a
jorna a consome.
Não tem um
segundo
Trabalha,
amamenta e vela
Carrega, lava,
limpa, adorna
Come, arde,
queima e descansa
No fio onde
pendura, todos os dias,
a esperança.
Fátima Almeida
23 de Abril 2018