quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Crónica: Teatro Bus e Grutaca animam o Verão em Famalicão


(Foto de, Marco Lindo)
Inserido na programação “Verão em Famalicão”, promovida pelo Município, apresentou-se no passado dia 26 de Agosto, em Vila Nova de Famalicão, a atividade “Teatro Bus” com a participação do Grutaca, Grupo de Teatro Amador Camiliano e a colaboração da ARRIVA Portugal.
A cidade que cresceu e se desenvolveu, dizem, mercê da posição geográfica estratégica, cruzamento de estradas com ligação a cidades como Braga, Porto, Barcelos, Póvoa de Varzim e Guimarães recebia nessa tarde, sob o calor sufocante de um Verão demasiado quente, o autocarro, denominado “Teatro Bus” (Autocarro do Teatro), surpreendendo todos os que, na esplanada dos cafés em redor da Praça D. Maria II, se refrescavam e aguardavam que o calor abrandasse para abandonarem a agradável sombra, dos guarda-sóis disponíveis.
Sem alarde, o enorme autocarro vermelho, coberto de inscrições e de efígies, entrou na rua pedonal e posicionou-se no centro da Praça ao lado do estrado de seis metros por quatro metros e meio, que já aí se encontrava instalado.
Apesar do calor, a curiosidade aproximou as pessoas e lembrou a atividade que decorreria à noite.
E a noite chegou. Fresca, agradável, ideal para sair de casa e desfrutar de um espetáculo de teatro, ao ar livre e no interior do autocarro.
A proposta teatral trazida pelo Grutaca, Grupo de Teatro Amador Camiliano, de São Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, apresentava alguns Sketches da vida e obra de Camilo Castelo Branco e da “Guerra no Tabuleiro de Xadrez” de Manuel António Pina, a uma plateia surpreendida pelo inusitado da situação e pela beleza e oportunidade das cenas que aí foram retratadas.
Fez-se silêncio e a função, no exterior, começou subindo à cena o personagem Nuno Castelo Branco, num monólogo interpretado pela atriz Dalila Fernandes. Depois, no estrado decorado com uma tela a lembrar um tabuleiro de xadrez, as personagens Camilo Castelo Branco (Reinaldo Ferreira) e Ana Augusta Plácido (Cláudia Campos) desenvolveram uma cena de ciúmes e Camilo, evidenciou o lado manipulador, profetizando o destino que pretendia escolher para o “filho estoira-vergas”, referindo-se a Nuno Castelo Branco, casando-o com uma mulher rica, apelidada por Camilo de “Diamante Negro”. O cansaço sobreveio e estes personagens deram lugar e “vida” às figuras Brancas e Pretas que compõem o jogo no tabuleiro de xadrez.
No tabuleiro, adiantou-se o frágil peão (Mariana Ferreira), entrou em cena e não deixou ninguém indiferente. A sua voz cristalina, pausada e bem colocada, guiou o público presente para as cenas seguintes dentro do “Teatro Bus”. O Bobo da corte (Serafim Costa) animou a assistência cantando “Fado triste” em tom melancólico e afinado. Devido ao elevado número de espetadores presentes, convidou uma parte do público para uma primeira função no interior do Autocarro, voltando a repetir o convite a um segundo grupo.
Cerca de uma centena e meia de pessoas fizeram parte integrante do espetáculo, outras tantas optaram por admirar e aplaudir no exterior. E foram muitos os aplausos e agradecimentos:  à Câmara Municipal pelo arrojo e inovação cultural; ao Grutaca e aos atores faltando aqui referir as seguintes interpretações: Rei Branco- Fernando Lima; Rei Preto- Hélder Lobo; Rainha Branca-Barbara Araújo; Rainha Preta-Diana Catarina; Bispo Branco-Francisco Cereja; Bispo Preto-António Alves; Cavaleiro Branco-Dalila Fernandes; Cavaleiro Preto-José Alves; Torre Branca- Raúl Oliveira e Torre Preta- Armindo Alves. Aplausos também para a ARRIVA pela disponibilidade e interesse em colaborar com o Município e o seu esforço de dinamização cultural.
Disputas, guerras, anseios, vinganças sem sentido e em resultado a necessidade de um esforço conjunto pela paz e harmonia entre os homens, sem diferenças de cor, género ou crença, foi a mensagem que aqui ficou na Praça Dona Maria II, nesta deliciosa Noite de Verão, a bordo de um Autocarro do Teatro, a quem chegaram a apelidar de “Autocarro do Amor” que nos levou pelos caminhos da Esperança e da celebração da literatura e dos autores de língua portuguesa.
Luís de Camões que o diga pois também lá estava, como se estivesse num mirante da Casa de Camilo, acompanhado pelos anfitriões, mirando expectante das janelas do autocarro.

Fátima Almeida

20-09-2016

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