segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A propósito do silêncio...




O silêncio é como um carreiro sem fim e sem destino. 
Quando somos crianças, o mundo à nossa volta é grandioso, todos os caminhos são compridos e todos os lugares são distantes. Tinha essa sensação quando, e sempre que, acompanhava o meu avô, nas suas deambulações pelas ruas e lugares da nossa aldeia.
O meu avô era surdo e sorria-me quando percebia o marulhar do vento nas giestas em flor ou ouvia o suave deslizar das lagartixas pela movimentação do cascalho ou das silvas do caminho.
Carreiros de silêncio e cumplicidade, de cheiros e de sorrisos, cumpridos, vividos sem vacilar por mim e por ele. De vez em quando o silêncio trazia-me o som dos pássaros e as conversas infindáveis dos pinheiros em disputa com os eucaliptos, mais frondosos, mais espaçosos, intrusos - sei-o agora!
Carreiros feitos a propósito de nada, a não ser pelo facto de estarmos juntos e caminhar, até que o cansaço nos vencia e nos fazia regressar a casa e a outros silêncios…

Ao meu Avô, José Dias Cardoso
13-04-2012

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