quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Aerograma




Maria, aqui tão longe de ti
sonho poder voltar e abraçar-te
Contar-te o meu receio e dor
Olhar os teus olhos e sorrir
Beijar as tuas mãos e pedir
alegria e não temor
Não sei se volto um dia
aos lugares da minha infância,
ao teu colo, aos teus afetos.
Aqui o silêncio magoa
E o metralhar ecoa
em mil destinos incertos.
Aqui desfazem-se sonhos,
desmembram-se futuros.
O céu negro e pesado
desfaz-se em gotas de mágoa
E o sangue tinge e turva a água
do caudal do rio calado
Maria, escreve-me e diz-me sempre
que estás à minha espera.
E eu abraçarei as tuas palavras.
Embrulha o nosso futuro
por enquanto, tem-no seguro
como o beijo que te mando e guardas.
Manda-me tu também um abraço.
Um abraço prenhe de distância
que ouse cruzar o mar e chegue aqui!
Que atravesse o meu peito como bala
Que acolha o grito que a minha boca cala
Que me saiba a casa, que me lembre de ti.
                                              
Do Teu José!

Nota: escrito no âmbito do projeto “Lenços das Madrinhas de Guerra” VNF (Abril de 2014)

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